No Brasil, entre os anos de 2021 e 2022, houve um aumento significativo de 68% nos casos de racismo registrados. Este cenário lança luz sobre um problema social que persiste e tem impactos profundos na construção da autoestima de pessoas negras. O racismo, muitas vezes camuflado de “brincadeira”, afeta negativamente o psicológico e a percepção de autoimagem das vítimas.
Em Santa Catarina, onde apenas 20,8% da população se autodeclara negra, a sensação de solidão pode ser exacerbada. Este estado apresenta um dos mais altos índices de injúria racial do país, destacando a severidade do problema. As piadas de cunho racista frequentemente minam a autoestima de indivíduos, que precisaram percorrer um caminho de autoconhecimento para superarem essas agressões emocionais.
Como a Alteridade Afeta a Autoestima de Pessoas Negras?
A exploração do conceito de alteridade ajuda a entender como contextos sociais racistas impactam a construção da autoestima em indivíduos negros. Segundo Nátaly Neri, cientista social, a imagem do “eu, negro” é formada em relação ao “outro, branco”, que muitas vezes é valorizado em detrimento do primeiro. Em um ambiente onde o padrão branco é exaltado, a construção da identidade negra pode ser afetada negativamente.
Desde a infância, as crianças negras são confrontadas com o racismo, que muitas vezes se intensifica no espaço digital. A presença quase universal de crianças e adolescentes nas redes sociais expõe este grupo a comentários racistas, o que pode prejudicar sua formação psicológica e social. Infelizmente, esse tipo de discriminação também pode se manifestar de maneira explícita em momentos de celebração, como no caso da miss mirim Maria Eduarda Barbosa, que foi alvo de ataques racistas online após sua vitória em um concurso de beleza.
Qual é o Papel da Representatividade no Empoderamento Negro?
A representatividade é uma ferramenta crucial na luta contra o racismo e na promoção do empoderamento negro. Ela serve como uma antítese ao desânimo e à falta de identificação enfrentados por muitos jovens negros que relatam a dificuldade de se ver em um mundo que ainda valoriza predominante a estética e a cultura branca.
O movimento conhecido como Geração Tombamento tem sido um motor de transformação cultural e social, priorizando a valorização da estética negra e a difusão de símbolos e identidades afrodescendentes. Este movimento também ajuda a redefinir padrões estéticos e sociais, proporcionando a jovens o espaço para aceitar e valorizar sua aparência natural.
Como a Valorização da Estética Negra Estimula a Autoaceitação?
A transição capilar e o uso de penteados afro, como tranças, representam a busca por um reconhecimento cultural e pessoal. Durante muito tempo, jovens negros sentiram a necessidade de alisar seus cabelos para se conformar a padrões normativos de beleza. No entanto, a crescente aceitação e promoção de cabelos naturais e estilos afro oferecem suporte para que indivíduos abracem suas identidades de maneira mais autêntica.
Para muitos trancistas, trabalhar com tranças é tanto um aspecto cultural quanto uma forma de resistência contra estigmas sociais. O movimento de aceitação e adoção da estética negra, promovido pelas redes sociais, ajuda a combater preconceitos e a reafirmar a beleza e ancestralidade negras.
Qual é o Impacto dos Projetos de Acolhimento Psicossocial como o Escuta Preta?
Apesar dos avanços, somente a valorização da estética não é suficiente para sanar os danos psicológicos causados pelo racismo. No ambiente acadêmico, como o da UFSC, ocorreram episódios de racismo que resultaram na criação de iniciativas como o projeto Escuta Preta, que proporciona apoio psicossocial a estudantes negros. Este projeto é essencial para promover um espaço seguro e empático onde essas questões podem ser debatidas e confrontadas.
O Escuta Preta, conduzido pela Faculdade de Psicologia da UFSC em conjunto com entidades de apoio a diversidade, oferece um espaço para que estudantes negros processem experiências de discriminação e trabalhem questões de autoestima. Essas dinâmicas ajudam a expor e desconstruir preconceitos racialmente inculcados, favorecendo um processo mais profundo de cura e aceitação pessoal.